Eu gosto do frio, gosto do chão frio, de dias nublados, porque são nestes dias que a gente sabe mais da gente, de tudo o que faz morada dentro de nosso ser. Costumamos nos isolar, quando não é um dia atribulado, a cama vira o melhor lugar deste mundo.
Mas nestes dias, pra quem tem coragem, só se fica desnudo de alma, de corpo, só nos verões ensolarados. Por isso que no verão, sentimos o nosso corpo mais quente, o espírito mais livre e a vontade de correr pela areia da praia feito louco, torna-se real. A salinidade é como uísque, embriaga e o fogo sobe, sem a soberba.
Eu sou de água, mas minha alma é de fogo. Nos verões, nos invernos, sou desnuda. A vida me é um palco italiano, as coxias não me servem. Despejo-me e me desprotejo de qualquer alma vã. Será que sou vã? Sou pagã, pagu. Gosto dos meus peitos à mostra, já que estão à mostra à vida, por que não a mim? Aos que querem lhe encher beijos?
Uma pena que somente no sexo a pena não sirva. Sexo é vida, vida é prazer, somente às vezes desprazer. Porém, é orgasmo: Gastronômico, astronômico, astrológico, sensorial, é vendaval, é fogueira de São João. Eu não preciso me jogar na fogueira, estou nela, imbuída pelo sabor que crio.
É bom que falem de sexo nas mesas, nos bares, nas rotinas dos tolos. Sexo é vitalidade, por isto é tabu! A sociedade se esquece de ser vital. O sexo é abismo, em que não existe medo de se cair, porque no fim, o que é a vida senão um eterno buraco negro? Incógnita profunda. Sexo é profundeza, é vício de viço, é coragem. Desnuda todo, pessoa, assim tu vive! Transborda no eclipse, na luz do dia e do luar.
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