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O Fantasma

E entre um café e outro, uma taça de vinho e outra, entre uma página de livro que eu viro e desviro, lembro que, a nossa página foi a única que não virei nesta vida.


Afinal, como virar uma página se o que foi escrito nela, não se findou? Se aquilo que está escrito é fantasmagórico? Se o ponto final não existiu, se na grande realidade, são as reticências que comprometem os leitores? Que me compromete.


Penso e logo desisto de entender. Foi você o maior amor que tive e terei? A maior paixão, talvez? No fim, foi você um amor abortado, mas foi você uma paixão que, de tão vivaz, percorre até hoje em minhas veias, como um carro que percorre veloz estrada afora, sem medo algum do que vem pela frente.


E embora anos tenham se passado desde o nosso último encontro, a realidade é que nas noites escuras, onde ninguém me escuta e só o silêncio me é companheiro, continuo, erroneamente, esbarrando em você, em seu olhar que sempre me fora estranhamente magnético.


Esbarro em seu olhar que brincava com o meu, que ria de minhas piadas sem graça. Um olhar que custava a acreditar na minha falta de conformidade, mas que justo por isto, olhava-me com curiosidade e a conformidade logo era esquecida. Um olhar que sempre foi saudoso, porque parecia você saber que a qualquer momento findaríamos o que desde o princípio parecia precipício.


Nos jogamos um no outro, como a maré alta em dias de tempestade, que se atira sem medo algum nas pedras sem sentir dor, já que se acostumou a transbordar e, as pedras, por serem firmes, aguentam este transbordar.


E nesse encontro de onda com pedra, de pedra com onda, a onda suntuosa logo se torna partícula, subindo aos céus e depois, resta-lhe apenas cair por terra. Na queda, as partículas de água se camuflam por entre os grãos de areia salgada e, ali, naquele instante de segundo, aprende que nada pode mudar.


Sobre você, sempre foi fácil de escrever, de descrever - Porque costumo dizer que, em matéria de escrita, o frenesi do lápis nos dedos só se dá quando a perspicácia sobre o tema que se escreve é perfeita.


A nossa perspicácia, de um sobre o outro, sempre foi perfeita, mas nunca conseguimos harmonizar a perfeição com o vínculo imperfeito e vicioso que construímos.


Por isso as reticências e não um ponto. Por isso o eterno, o eterno que existe e tanto exige diante de todos os grandes amores que não foram concebidos e sim, abortados no meio do caminho, um caminho por assim dizer: De pedras.




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