Foi o que me disse uma grande amiga na madrugada de ontem. Como ela estava embalada por alguns drinks, resolvi não filosofar muito e me fazer de todo ouvidos. O fato é que eu deveria ter lhe perguntado de que material era ela, já que sua queixa foi: “Eu sou de um material diferente do dele”. Mas, será mesmo que relações devam chegar ao fim por pessoas serem feitas de materiais diferentes?
No mundo de hoje é fácil vermos seres líquidos, que se adequam aonde bem são colocados, afinal de contas, a água consegue entrar em todos os lugares e lhes possuir - Desde o formato de nossos olhos, quando as lágrimas salgadas formam enchentes, até um jarro de cristal suntuoso quando posto em uma bela mesa. A água está em nós, não por isso devemos sê-la, é impossível tomar conta de algo que naturalmente já existe de maneira suprema.
Mas o universo é recheado de arrogantes que tentam sem sabedoria alguma, ser o que não são, que não abraçam a própria natureza, que não tornam a pensar de que são feitos. Abraçar a nossa essência é o maior ato de amor que podemos fazer por nós mesmos, se assim não fizermos, os nossos caminhos tendem a ser insignificantes e turvos. O caminho para o amor é um dos mais importantes desta vida e o amor não tem vocação para ser turvo.
Amor é sentimento, não tem forma, tem vida própria e faz de nós o que bem quer. Invade quando quer invadir e, embora tentemos barrar a invasão, quando nos damos conta já é tarde, sequer há guerra a ser travada, somos vencidos por ele. Ele é invencível, teimoso. Há também quem tente fazer o amor ser concebido, regá-lo todos os dias na tentativa infame e desonesta de que ele invada o peito. Não haverá invasão se ele, sim, este sujeito – O amor - não tiver vontade própria.
Divido as pessoas em quatro materiais: Madeira, vidro, areia e palha. Nenhum é melhor que o outro, todos têm serventia, todos existem porque devem existir. A madeira boa, o cupim não rói. Se bem cuidada, anos se passarão e permanecerá indestrutível, com o mesmo viço de outrora. O vidro é transparente, é o que é, existe para exibir o belo, mas é capaz de ferir (caso não cuidemos de nós ou dele). A areia é confortável. Poder sentir seus grãos é um afago, mas um grão apenas, machuca os olhos. A palha é leviana, bondosa, pode ser levada a qualquer lugar. Não é pretensiosa, muito embora se destrua fácil por tamanha bondade. O fogo parece existir apenas para queimá-la.
Os quatro materiais coexistem. Mas, ludicamente, como numa reflexão ingênua, como naquele conto infantil, peço a reflexão: Faria sentido uma casa composta apenas por um destes? Creio que não, nem seria casa. Faria sentido então, afastarmos de nós a areia quando somos madeira? A palha, se somos vidro? É na fusão, na amálgama do viver, que podemos ver o harmonioso. Porém, com muita certeza afirmo que o harmonioso não terá espaço para crescer se continuarmos a seguir pela liquidez.
Se continuarmos a andar pela liquidez, passaremos uma vida inteira a nos adequar. Nunca iremos encontrar o nosso espaço, o nosso lugar. Os lugares serão protagonistas de nossas vidas e não nós. As pessoas dominarão nossas vontades. Iremos ficar acorrentados em vasos pequenos, seremos jogados às ruas quando as plantas que demos vidas, morrerem. Serviremos apenas para matar a sede dos arrogantes. Serviremos para purificar o corpo dos que precisam e depois secaremos, deixando de existir num corpo que nunca foi nosso.
Portanto, sejamos de matéria e nos adequemos apenas ao amor, claro, isto antes se nos amarmos em demasia. Se assim não for, seremos eternamente seres líquidos e já sabem, é impossível dominar um elemento tão forte como aquele que compõe o oceano.
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