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Writer's pictureMaria Alice Gadelha

Redes

Updated: May 23, 2020

Eu sempre gostei de redes, elas sempre me passaram uma serenidade suprema. Só de assistí-las dançando no ar, o meu coração se enchia e, continua a se encher de paz.


A rede nasceu no Brasil, na época da colonização. Era utilizada principalmente para o transporte das ricas senhoras, que eram carregadas pelos seus escravos para onde bem quisessem. Passado algum tempo, estas senhoras resolveram decorar suas varandas com este pedaço encorpado de algodão e foi assim que este pedaço de pano começou a fazer morada em tantas casas brasileiras.


Até hoje, principalmente no Nordeste, a rede é imprescindível em qualquer que seja o lar. É requisitada por conta de sua tamanha flexibilidade, posto que ela fica bem em qualquer cômodo da casa, de muito bom grado, vale salientar.


Apesar de ser flexível, de se mover com o vento, ela se faz permanente, porque sabemos que podemos contar com o seu conforto, com o seu abraço amigo e com o seu ninar maternal. A gente se agarra à ela e ela se agarra de volta, numa eterna brincadeira envolvente de reciprocidade.


O dia é ruim, a chuva nos molha por inteiro na volta pra casa, tivemos milhões de problemas para resolver no tempo de 24h. O mundo parece estar passando por um vendaval e nesta hora, nos configuramos meramente como intrusos dele.


Ainda assim, a rede insiste presente no pensamento que nos drena até nossa volta para casa, finalmente ao seu encontro. Vamos caminhando feito criança, rezando por um silêncio de uma alma antiga que nos escute com atenção.


A rede tem esta alma, tem também esta presença de um ancião, que se remexe em cada retalho de seu corpo de algodão.


O que muitos não percebem, é que existem as redes de pessoas, feitas e costuradas fio a fio a partir de pedaços daqueles que tanto amamos. São as chamadas redes de apoio.


Estas redes são específicas, nascem por meio de vozes únicas, de olhares íntimos, de histórias bem vividas que se eternizam nas caixinhas que nossas mentes criam, especialmente para estes relicários.


São vozes que nos proporcionaram gargalhadas intensas, vozes que debateram algum assunto incomum conosco. Vozes que tantas vezes acalmaram, trazendo à luz do dia um conselho ou uma palavra carinhosa.


O olhar é este conhecido, que numa mesa redonda tantas vezes um amigo lhe atirou e por conta dele, a voz não se tornou necessária. O olhar que lhe conhece, que estaciona em algo que lembra você, seja numa vitrine de uma loja ou num lugar que seria adorável estar em sua companhia.


As memórias só poderiam existir se estes olhares tivessem tido harmonia desde o princípio. Se estas vozes tivessem um timbre parecido com a sua própria voz, e se misturasse num canto imperfeito com ela.


Sinto-me confortável na rede de apoio que construí ao longo de minha trajetória. Quando sinto o frio que a solidão da vida por vezes faz, a rede de pessoas que carrego no peito me aquece.


São pessoas que se parecem comigo, que comungam dos mesmos pensamentos e de ideologias primas. Pessoas que, acima de tudo, protegem suas verdades e creem com veemência naquilo que sai de minha boca.


A proteção que sinto é mágica e a proteção que dou de volta enraíza fortemente o amor que nasceu há tempos.




*Este texto é um recado àqueles que sentem sua “rede de apoio” enfraquecida, bamba. Cuide-se, atente-se às flores que fazem parte do jardim que você habita.*


Dedico este texto àqueles que estão sempre por perto, distante dos olhos (por vezes) mas sempre próximos ao coração:


Rebeca, Alice, as Dudas, Maria Clara, Júlia, Juliana, Alana, Luanna, Amanda, Malu, Letícia, Jeo, as Bias, Manu, Lara, Luíza, Anna Tereza, Layla, Bianca, Pri, Ac, Bruno, Zeka, Marcílio, Pedro e Raí.




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