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Writer's pictureMaria Alice Gadelha

Vício

Updated: May 11, 2020

Se eu tivesse algum vestígio seu para apagar do meu telefone, eu com certeza estaria

apagando, só para sentir de algum modo, ainda que falho, que estaria lhe retirando da minha mente e dos meus dias. Seria tão inocente esta atitude, pois você voltaria a me atormentar em algum momento.


Assim como o vento atormenta o Zé que dorme solitário pelas ruas de João Pessoa, procurando em cada beco um calor qualquer para se aquecer e perceber que o frio é, portanto,  vencível. Você sussurra em meus ouvidos como aquelas crianças que brincam de telefone sem fio pela praça. Sussurra palavras doces e ao mesmo tempo cruéis demais para o meu coração tão rendido, principalmente a você, às suas teorias e suas indecisões.


E aí, é nesta hora que me canso, sumo novamente, desapareço, tampo os ouvidos e encho a cabeça de tudo aquilo que você repudia, para assim me manter distante do seu magnetismo viril, de tal forma que, qualquer explicação para descrevê-lo seria vã.


Vou sumindo, mas você me acha, e é em vão. Acha-me nas palavras, nas músicas que ouço no rádio, nas ciganas que já me falaram sobre duas metades, no amor imperfeito, enérgico e de outras vidas.


Torna-me a perseguir, bem como o vinho persegue o alcoólatra aflito, como a inspiração persegue o artista, como o desejo de liberdade persegue o bandido ou mesmo a escória completa.


Espero que você deixe de ser esse menino travesso e passe a ser o homem apressado, que mal tem tempo de olhar o ponteiro e não volte para recuperar espertamente a lembrança de que um dia tive seus lábios nos meus.


No que quer que esteja pensando agora, se estiver com um cigarro entre a boca, torne-se a lembrar da menina levada, que um dia lhe disse que a felicidade é inesquecível e constantemente uma escolha, porque inevitavelmente, indubitavelmente, você representa o dito, fora feito para você.







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