Se eu tivesse algum vestígio seu para apagar do meu telefone, eu com certeza estaria
apagando, só para sentir de algum modo, ainda que falho, que estaria lhe retirando da minha mente e dos meus dias. Seria tão inocente esta atitude, pois você voltaria a me atormentar em algum momento.
Assim como o vento atormenta o Zé que dorme solitário pelas ruas de João Pessoa, procurando em cada beco um calor qualquer para se aquecer e perceber que o frio é, portanto, vencível. Você sussurra em meus ouvidos como aquelas crianças que brincam de telefone sem fio pela praça. Sussurra palavras doces e ao mesmo tempo cruéis demais para o meu coração tão rendido, principalmente a você, às suas teorias e suas indecisões.
E aí, é nesta hora que me canso, sumo novamente, desapareço, tampo os ouvidos e encho a cabeça de tudo aquilo que você repudia, para assim me manter distante do seu magnetismo viril, de tal forma que, qualquer explicação para descrevê-lo seria vã.
Vou sumindo, mas você me acha, e é em vão. Acha-me nas palavras, nas músicas que ouço no rádio, nas ciganas que já me falaram sobre duas metades, no amor imperfeito, enérgico e de outras vidas.
Torna-me a perseguir, bem como o vinho persegue o alcoólatra aflito, como a inspiração persegue o artista, como o desejo de liberdade persegue o bandido ou mesmo a escória completa.
Espero que você deixe de ser esse menino travesso e passe a ser o homem apressado, que mal tem tempo de olhar o ponteiro e não volte para recuperar espertamente a lembrança de que um dia tive seus lábios nos meus.
No que quer que esteja pensando agora, se estiver com um cigarro entre a boca, torne-se a lembrar da menina levada, que um dia lhe disse que a felicidade é inesquecível e constantemente uma escolha, porque inevitavelmente, indubitavelmente, você representa o dito, fora feito para você.
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